quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Arte Milimétrica


O artista plástico cearense J. Pinheiro está com novo trabalho. A exposição "Construções", composta de 40 quadros geométricos e tridimensionais, marca 40 anos de carreira

O artista plástico José Francisco Pinheiro de Sousa, que participou ativamente da geração de 70 na arte cearense como J. Pinheiro, está completando 40 anos de carreira. Desde quando ousou materializar seus pensamentos através de desenhos tridimensionais, elaborados com cartolina e tinta guache, suas criações, apesar de pouco conhecidas pelo público atual, chamaram bastante atenção no Ceará e em exposições Brasil afora.

"Em 1971, participei do 4º Salão dos Novos aqui em Fortaleza, mas ainda com um trabalho a óleo. Somente em 1972, depois de ter participado das 22ª e 23ª edições do Salão de Abril, fui selecionado para a Brasil Plástica 72, em São Paulo. Daí o trabalho ganhou notabilidade. Mas eu era muito novo, tinha, 17, 18 anos, e não tive estrutura para ficar no Sudeste. E, no Ceará, você sabe como é, tem que sair daqui para ter sucesso, se não, é como se o trabalho não valesse", lamenta.

Os 40 trabalhos da mostra individual que J. Pinheiro está preparando para março remontam ao início de sua carreira. A série intitulada "Construções" destaca composições feitas de papelão e que projetam jogos de cores, dependendo do ângulo do observador. Todas matematicamente calculadas.

"Comecei com as caixinhas e todos que conhecem meu trabalho dizem que foi minha fase mais ´gostosa´". J. Pinheiro concebe a obra, traça uma planta dela e faz o estudo das cores no papel. Só depois trabalha as caixinhas. São sempre desenhos dentro das escalas geométricas. "Acho que era para eu ter sido engenheiro ou arquiteto, mas caí nas artes plásticas muito cedo, e não me preocupei com isso. Fiz várias coisas, mas tudo sempre dentro da matemática", diz Pinheiro.

E o efeito é bonito mesmo. Quem tiver oportunidade de obter uma das composições comemorativas dos 40 anos de carreira de J. Pinheiro (todos estarão a venda durante a exposição), possuirá uma obra curiosa, que varia da esquerda para direita, de acima para baixo, e vice-versa, e ainda com prerrogativa de expor o trabalho tanto na vertical, quanto na horizontal, sempre com efeito peculiar.

"Em 1974, fiz uma série dessa, mas vendi toda em São Paulo, mas, depois, explorei pouco. Sempre produzi muito, nunca me faltou criação. Mas a obra com a qual fui para a Brasil Plástica 72, e também ganhei a Medalha do Sesquicentenário da Independência do Brasil, intitulada Construção, que tem 1,70 metro, ainda está lá casa, nunca vendi. Meu desejo é que alguma instituição se interesse por ela, adquira e guarde como memória. Não tenho filhos, nem sei se terei. Não quero que esses trabalhos se percam", confessa o artista plástico.

Modernista, construtivista, abstracionista, concretista? Como classificar as rigorosas e doces caixinhas montadas pelo artista J. Pinheiro que, da perspectiva de conjuntos de losangos, aceita induções pessoais de similaridades com portas e janelas abertas, ou mesmo, prédios hermeticamente fechados. Perspectivas de visões diferenciadas de construções, tudo na mesma criação.

"Se o trabalho fosse maior você sentiria que parece um prédio. Estou com muito entusiasmo para esse encontro, será muito bom. Sou fruto do incentivo de Heloísa Juaçaba (artista plástica), de Hilma Montenegro (escritora) e de outros, esse será um momento muito importante para mim. Dessa vez quero vender tudo, porque quero produzir mais, não posso ficar só guardando", afirmou.

Em 1973, Pinheiro foi classificado para a 12º Bienal de São Paulo, até hoje, a Bienal com maior representação de artistas cearenses. Nesse tempo, J. Pinheiro levou para lá uma instalação com dezenas de aviõezinhos feitos de lata de óleo, comprados na feira, pendurados em fios e que se movimentavam com a intervenção do vento nas hélices.

O artista, que hoje mora ali, no bairro Monte Castelo, possui telas nas Pinacotecas do Paço Municipal (Prefeitura de Fortaleza), Tribunal Regional do Trabalho (7ª Região de Fortaleza), Bancesa de Manaus (AM), Cartório Morais Correia, e outras.

Fique por dentro
40 anos de arte

Desde janeiro, o artista J. Pinheiro trabalha nos detalhes finais da exposição que marcará seus 40 anos de carreira. A mostra individual já tem nome "Construções", remetendo às obras - e ao processo criativo - de Pinheiro.

As obras do artista são concebidas como pequenas peças arquitetônicas, com direito a projeção e experimentação antes de serem executadas em papel.

"Construção" ficará em cartaz entre os dias 16 e 30 de março, no espaço do Centro Cultural Oboé. Mais informações pelos relefones (85) 3062.3674 e 8894.5437.

NATERCIA ROCHA
REPÓRTER - DN

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